Desprender-se! O caminho que nos flui…

Visto as palavras de Fernando Pessoa:

“A Renúncia é a libertação. Não querer é Poder.”

  A sala já estava vazia, ao nosso redor só restavam nossos livros e cds, e as fotos da família ainda na parede. Nos outros cômodos só permanecia  nossa cama de casal, para fazer dos nossos últimos dias naquela casa, momentos mais acolhedores.

  No movimento desenfreado de resolver detalhes, organizar a viagem, sinto como se fosse agora a sensação de alívio ao ver a casa vazia…é como se o Mundo se abrisse diante de mim e convidasse a mergulhar no espaço do não saber, e embora o frio na barriga fosse intenso, a sensação de liberdade ganhava minha alma…

  Em um momento estava na sala separando os livros, e recordei a frase de um amigo:

  • Quando a caminhada é longa, temos que ter cuidado com o que levamos na mochila, podem haver pesos desnecessários.

  Nunca essa frase tinha feito tanto sentido do que naquele momento de minha vida, o momento de recomeçar em direção ao desconhecido.

14344081_1269262689750954_1479820779169045607_n Aprendi que acumulamos coisas desnecessárias, na Vida e na Alma…

  Em vários momentos de minha vida a casa vazia era sinônimo de alegria e diversão, o Nada transformado em Tudo, tínhamos o Essencial:  as brincadeiras das crianças , os momentos de sentar ao chão para repartir o lanche, o entusiamo com as novas possibilidades…

  Restavam as pessoas ao meu redor e a nossa capacidade de estarmos juntos, momentos de compartilhar!

  E reviver esse momento depois de uma história de sucesso profissional e familiar, por vontade própria era exercer a essência do livro arbítrio.

  Exercer o Desapego como des-pren-di-men-to…

  Não como indiferença à tudo que tinha feito parte da Minha vida, um desapego com gratidão por todas as coisas que fizeram  parte da minha história, por todas as pessoas que floreiam minha Vida, e que, por liberdade do amor, não me sentia presa.

  Por todas as relações de afeto e cumplicidade que permitiam deixar minha Vida fluir com o Universo.

  Cumprimos a nossa Missão e agora estávamos em direção à uma nova.

  Quando o apego é intenso nos prendemos à rotinas, objetos,  ciclos viciosos e pessoas, não com liberdade mas com Medo.

  O único Medo é de sofrer a perda e nada mais nos restar.

  Queremos exercer a plena liberdade mas não queremos sentir dor. Não compreendemos que quanto mais  firmes e inflexíveis forem os laços que nos prendem à situações, pessoas ou coisas, mais sentiremos dor ao tentar o desprendimento.

  Mais nos confundiremos com aquilo que pensamos possuir.

  Mas conviver com a instabilidade é algo desafiador para a humanidade, então criamos a fantasia de posse e eternidade, talvez, por não estarmos ligados diretamente com nosso Poder de criação.

  Mas você não sentiu o Desapego?

  Senti intensamente: Medo, insegurança, tristeza, euforia, ansiedade, vontade de desistir…abandonar as máscaras que me protegiam nesse caminho conhecido, talvez tenha sido (e ainda é ) o mais desafiador.

Mergulhei no aprendizado que sempre ensinei aos meus pacientes: o Jardineiro não é o seu Jardim.

Mas o  sentir é o que me reconecta a cada dia ao meu poder de criação e alimenta a sensação de empoderamento e congruência: Eu estava, naquelas escolhas, sendo leal e fiel à todas as minhas crenças e valores, praticando tudo o que eu palestrava, exercendo minha autonomia no Mundo.

E o que mais alimentava minha insegurança?

As pessoas a minha volta, buscando respostas que eu ainda não havia encontrado…e talvez jamais encontrarei, pois as respostas nos iludem com a sensação de conforto.

Necessitamos estar convictos com certezas que jamais teremos de experiências que ainda não vivenciamos. E então, deixamos de vivenciar o Novo, amadurecer e crescer por não termos  respostas…

Decidimos (eu e meu marido) nessa nova jornada,  nos entregar ao  “Espaço do Não Saber”.

Já dizia Jung:

“Não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo, para evitar enfrentar à sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão.”

Ah! mas quando mergulhamos na luz do Universo…

E ainda nos encontramos nesse espaço como crianças que iniciam uma nova aventura trazendo apenas o essencial: O que Somos e os sentimentos que construímos em toda nossa história de Vida.

As crianças têm a sabedoria de mergulhar no momento presente e vivencia-lo como protagonistas,  constroem as suas histórias; e elas também precisam sentir-se seguras mas a diferença é que a criança se vê capaz de construir sua segurança onde quer que esteja.

São sábios mestres.

E o que nós desejamos?

Mergulhar intensamente no que o Universo nos trouxer, sendo protagonistas na construção de um Mundo mais afetivo e Humano.

Se fosse apenas por dinheiro e status, continuaríamos presos onde estávamos.

Quando um caminho ou as relações começam a prender a nossa capacidade de crescer e evoluir, é hora de deixa-lo, refazê-lo ou ressignificá-lo.

Agora é hora de fluir…

Para onde e como? 

Não sabemos e isso já não nos Amedronta mais.

Só garantimos que o aqui e agora está sendo regado com nossos valores.

Mas o Afeto…

Ah, isso é tudo que alimenta minha alma nessa caminhada e tudo que sinto é Gratidão!

Tudo o que Temos é Tudo o que Somos e  a isso costumo chamar de Liberdade…

Por Gizele Cordeiro

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13 comentários em “Desprender-se! O caminho que nos flui…

  1. Texto real e esclarecedor para quem ainda está na caverna. Não temos nada de material.
    Apenas somos espíritos vivendo uma experiência humana e não humanos vivendo uma experiência espiritual.
    O universo é GIGANTESCO.
    Abração.

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  2. Muito bom!! Exatamente o que sentimos quando deixamos tudo para trás em busca de um sonho…nossas vidas mudaram completamente quando subimos naquele avião com a mala cheia de sonhos e expectativas…hj lembro de cada detalhe com mta alegria e satisfação em ter vivido aquele turbilhão de emoções. Bjos

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