Uma imagem que se assemelha a uma pintura, um vilarejo encravado na montanha, um caminho sinuoso entre eucaliptos, cercado por plantações de oliveiras.
Se fosse apenas para enumerar vantagens, como aqueles cadernos de checklists, de metas, de sonhos, teríamos apenas que parar no mirante indicado pela National Geographic, tirar fotos e voltar para casa.
Mas desde que comecei a registrar minhas explorações neste blog em 2016, a busca nunca foi pela quantidade intensa e incansável, mas sim, como em tudo na minha vida, por histórias, afetos e profundidade.
Descemos até a igreja redonda do vilarejo e caminhamos lentamente pelas ruas estreitas. Olhares curiosos dos moradores locais, facilmente identificando pelo idioma dessa família tagarela que não somos espanhóis.
E nós, observadores, percebendo também que a maioria que estava agrupada nas esquinas das ruas não era da mesma nacionalidade dos moradores locais.
O pequeno vilarejo rural, com uma extensa área de plantação de azeitonas, não possui população jovem o suficiente para realizar a colheita.
As mãos que hoje sustentam as colheitas são justamente do povo que, historicamente, no dia 2 de janeiro, foi expulso dessas terras pelos reis católicos.
Ironia do destino? Não tenho certeza e nem ousaria julgar. Apenas constato.
Quando estabelecemos fronteiras, pódios, metas e sonhos apenas para nos colocar acima dos outros, o destino nos surpreende, em algum momento, mostrando-nos que somos interdependentes.
Em um momento, você está deste lado, em outro está do outro lado.
Qual mão alimenta quem?
Se a visão for sistêmica, criamos comunidades. Se for competitiva, criamos guerras.
Se o ego for inflado, criamos sensações de superioridade. Se houver consciência, criamos autenticidade e habilidade de agregar.
Descemos um pouco mais para conhecer o vilarejo, voltamos e mergulhamos na deliciosa cafeteria perto da praça da igreja.
Conversas, moradores locais, café com leite ou apenas um espresso, Colacao ou um chá, lanche das 17h: um hábito espanhol tão bem apreciado por mim, que, assim como eles, amo cafeterias.
Somos tão diferentes e, ainda assim, tão parte uns dos outros.
Quando nos ensinaram que a criação de fronteiras define o primeiro ou segundo mundo, ou que chegar primeiro é mérito?
Continuo aqui, calmamente, sentindo, sendo e amando o que me faz sentir. Encontros e compartilhamentos.
Mais do que simplesmente registrar a imagem na moldura dos olhos da National Geographic.
Emoldurar com os olhos da alma o ser humano que vejo diante de mim.